"Nada se espalha com maior rapidez do que um boato" (Virgílio)

Revolta da Vacina


Rio de Janeiro, capital federal, ano de 1904. O povo amotinado levanta barricadas. Bondes são depredados e incendiados. Lojas saqueadas. O episódio fica conhecido como a Revolta da Vacina.
O Rio de Janeiro é uma cidade com ruelas estreitas, sujas. Cheia de cortiços onde se amontoa a população pobre. A falta de saneamento básico e as condições de higiene fazem da cidade um foco de epidemias, principalmente Febre Amarela, Varíola e Peste.
Em 1895, ao atracar no Rio de Janeiro, o navio italiano Lombardia perdeu 234 de seus 337 tripulantes, mortos por Febre Amarela.

"Viaje direto para Argentina sem passar pelos
perigosos focos de epidemias do Brasil".

Com esta propaganda, uma companhia de viagem européia tranqüilizava seus clientes, no início do século.
1902. Rodrigues Alves assume a presidência do Brasil com o programa de sanear e reformar o Rio de Janeiro, nos moldes das cidades européias. Os motivos são manter o turismo e atrair investidores estrangeiros. Mais de seiscentos cortiços são derrubados no centro da cidade para a construção de avenidas. Populações de bairros inteiros, sem ter para onde ir, são desalojadas à força e se refugiam nos morros. As favelas começam a se expandir.
O médico sanitarista Oswaldo Cruz é encarregado de combater as epidemias. Para atacar a Febre Amarela, Oswaldo Cruz segue uma teoria de médicos cubanos, que aponta um tipo de mosquito como o seu transmissor.
Para acabar com a peste, transmitida pela pulga do rato, um esquadrão de 50 homens percorre a cidade espalhando raticidas e removendo lixo. Um novo cargo público é criado: o dos compradores de ratos, que saem pelas ruas pagando trezentos réis por rato capturado.
Brigadas de Mata-Mosquitos desinfetam ruas e casas. A população acha uma maluquice responsabilizar um mosquito pela Febre Amarela.
Quase toda a imprensa fica contra Oswaldo Cruz e ridiculariza sua campanha. Mas foi a Varíola que pôs a cidade em pé de guerra.
Apoiadas em uma lei federal, as Brigadas Sanitárias entravam nas casas e vacinavam pessoas à força. Setores de oposição ao governo gritavam contra as medidas autoritárias de Oswaldo Cruz.
Em novembro de 1904, explode a revolta. Por mais de uma semana as ruas do Rio de Janeiro vivem uma guerra civil. A Escola Militar de Praia Vermelha, comandada por altos escalões do Exército, alia-se aos revoltosos. Militares insatisfeitos com o presidente Rodrigues Alves armam um golpe de Estado.
O governo reage. Tropas leais atacam os revoltosos. No centro da cidade, pelotões disparam contra a multidão. O número de mortos da Revolta da Vacina é desconhecido. O de feridos ultrapassa cem. Mais de mil pessoas são presas e deportadas para o Acre.
As medidas sanitárias continuam. Em 1903, 469 pessoas morrem de Febre Amarela. No ano seguinte, este número cai para 39.
Em 1904, a Varíola havia matado cerca de 3.500 pessoas. Dois anos depois, esta doença faz apenas 9 vítimas. A cidade fica livre das epidemias. Mas começa a sofrer com a proliferação das favelas.

Fonte: Portal TV Cultura
 
Outros textos sobre a Revolta da Vacina nesse blog: post1, post2, post3 e post4

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